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  • Foto do escritorSOS Ribeirão Sobradinho

SOS lança o Projeto Cartas Solidárias ao Ribeirão Sobradinho

O Projeto Cartas Solidárias ao Ribeirão Sobradinho trará a cada último domingo do mês duas cartas de integrantes e apoiadores do SOS que serão destinadas ao nosso querido Ribeirão. O objetivo é deixar uma mensagem à sua maneira, seja ela de afeto, solidariedade, força, indignação... Tudo isso para declarar a importância dele para todos.


A ideia foi inspirada no projeto Cartas Solidárias, desenvolvido pelo GT de Saúde Mental e Apoio Psicossocial da Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Correio Braziliense, que envia mensagens de afeto para profissionais da linha de frente no combate ao coronavírus.


A escolha do último domingo do mês vem para substituir as caminhadas que ocorreram ao longo do ano passado às margens do Ribeirão Sobradinho. Já que neste momento de pandemia não é possível visitá-lo, as cartas são para mostrar que o sentimento de recuperação das águas ainda está vivo! Se quiser colaborar, envie um e-mail para blogsosribeirao@gmail.com.


Neste domingo (31/5), temos uma carta e uma crônica escritas, respectivamente, pelos colaboradores Jaqueline Paz e Heron Sena.


Confira a carta:



Querido Ribeirão Sobradinho,


Meu nome é Jaqueline Paz, sou sua vizinha há 31 anos e escrevo esta carta com a intenção de agradecê-lo e homenageá-lo por todos os momentos felizes que você tem proporcionado a mim em todos esses anos, em especial no período da minha infância!


A história que nos envolve começou quando eu tinha 9 anos de idade e a minha família mudou-se para bem perto de suas margens verdejantes, no conjunto G da quadra 10 aqui na cidade de Sobradinho. Antes disso, morávamos na quadra 703 Sul ao lado da Igreja Dom Bosco, no coração de Brasília. O motivo dessa nossa mudança foi a aposentadoria do meu pai que, na ocasião, optou por viver com a sua família num lugar mais tranquilo. Quando enfim chegamos em nossa nova casa pude ver através da janela do meu quarto que havia na frente da casa um clube chamado SODESO! Que alegria saber que na frente de nossa casa havia um clube com piscinas, parquinho, quadras de esportes, campo de futebol, lanchonete e salão de festas! Fiquei feliz demais!


Mas o melhor ainda estava por vir: conhecer você, Ribeirão! E isso aconteceu logo na primeira visita que fiz ao clube, quando fui em direção ao parquinho de areia. Neste momento ouvi o som inconfundível de água corrente e você estava logo depois do parque. Me aproximei de sua margem e foi assim que o vi pela primeira vez: cheio de água, majestoso, nutrindo toda a extensão do clube. Sua presença acabava de tornar aquele pequeno clube perfeito! Porém, curtir você era proibido ali. Não por causa de poluição, mas pelo perigo de sua profundidade e correnteza. Entretanto, mesmo sem poder entrar em sua água, fiquei tão feliz que sequer lembrei-me de perguntar o seu nome para alguém... erro que me fez chamá-lo de córrego por muito tempo (me desculpe!). O que importava era o simples fato de você existir, de estar ali, disponível, limpo, fluindo, livre e cheio de vida (tanto ao redor quanto dentro de si)!


É fato, que senti uma vontade imensa de mergulhar em você mas, como na área do clube era proibido, fui atrás de descobrir um lugar seguro, fora do clube, no qual eu pudesse nadar em suas águas... e, em poucos dias, meus novos vizinhos me indicaram o local seguro para conhecê-lo: ao lado da quadra 09, próximo da ponte que é caminho para o Pólo de Cinema e Vídeo do Distrito Federal. Foi assim que, finalmente, pude conhecer toda a sua formosura e experimentá-lo por inteiro: sua água fria e limpa, fluindo entre grandes árvores... onde os raios do sol tinham dificuldade de tocar sua superfície por causa da copa das árvores que se juntavam formando um lindo teto verde e criando grandes sombras agradáveis naquele lugar. Ali sim, a correnteza era segura e a profundidade ideal. Podíamos ver através de suas águas limpas as inúmeras piabinhas que também nadavam tranquilamente por lá! Sim, havia muitos peixes em suas águas! Mas hoje não é mais assim: suas águas estão poluídas e o assoreamento o deixou raso naquele local, que agora é perigoso por causa da violência urbana. E, infelizmente, não foi apenas esse ponto de mergulho que ficou prejudicado...


Há alguns anos venho percebendo o seu sofrimento devido ao assoreamento, esgotos não tratados e todo tipo de lixo que são despejados em você. Desde a poucos metros de suas nascentes e ao longo do seu percurso até a sua foz, no Rio São Bartolomeu, suas águas são inutilizadas com dejetos humanos e todo tipo de lixo, inclusive resíduos agrotóxicos. Infelizmente a construção de sanitários secos compostáveis, que aliviariam demais a quantidade de esgoto em suas águas, ainda é um assunto pouco difundido e não virou uma política pública. Como é triste saber que, por causa desse comportamento irracional, a nossa espécie foi a responsável por transformar suas lindas cachoeiras em um ambiente de águas poluídas e fétidas, impróprias para o consumo humano, para os animais e até mesmo para um mergulho rápido! Sinto muito pesar também ao ver o avanço irresponsável das decisões políticas relativas à permissão de empreendimentos que pretendem ocupar suas proximidades (como, por exemplo, a construção da cidade Urbitá e do Complexo de Saúde Norte), o que aumentaria exponencialmente a quantidade de esgotos gerados e despejados em ti. É claro que, caso isso ocorra, comprometerá de maneira definitiva sua saúde ecossistêmica e anulará a sua capacidade de regeneração! É um absurdo assistirmos o egoísmo de uns poucos burocratas ter mais peso que a conservação da pouca natureza que nos resta e ainda silenciar a voz da grande maioria da população dessa região, que é composta, em sua maioria, por famílias pioneiras.


Sim, é muito triste vê-lo tão desprotegido, vulnerável e assistirmos à profanação de suas águas, que brotam tão puras das entranhas da terra! Sei que continuas cumprindo a sua missão eterna de garantir-nos vida boa e saudável! Admito que não estamos agindo corretamente com você e que estamos violando o seu direito à vida quando te usamos como lixeira e latrina. É vergonhoso não conseguirmos cuidar bem de ti, tão pequeno em largura e extensão, localizado a poucos quilômetros da capital do Brasil, onde temos todos os órgãos distritais e federais necessários e capazes de realizarem a tua cura. Nós, estamos sim falhando com você que, apesar disso, continua firme em sua nobre missão de nos oferecer, nos seus curtos 28 Km de extensão, a vida em estado líquido, sua água pura... mesmo sabendo que logo adiante elas serão contaminadas por nós. Perdão pela lentidão de nossa luta que, para acontecer efetivamente, mais depende da vontade política dos detentores da lei e dos recursos materiais que eles têm acesso, do que do esforço e trabalho constante da sociedade civil, que se mantém firme há muitos anos neste propósito.


Mas também lhe trago boas notícias! Há muitas pessoas que se importam de verdade com você, Ribeirão! São pessoas que têm trabalhado incansavelmente para recuperar suas águas: crianças, jovens, adultos e até idosos mobilizados, principalmente, devido à existência da Associação SOS Ribeirão Sobradinho, que conta também com a contribuição de professores universitários, estudantes de várias áreas do conhecimento e grupos de trabalho (GT´s) organizados, como por exemplo, os ambientalistas Guardiões do Meio Ambiente de Sobradinho que são incansáveis na luta pela sua recuperação, atuando na preservação de suas nascentes, das áreas remanescentes de cerrado e nos demais problemas ambientais da região. Há muita gente empenhada em vê-lo despoluído, seja cultivando e plantando mudas para a recuperação de sua mata ciliar, em atividades de educação ambiental em escolas da cidade, em denúncias de falhas no saneamento e solicitação das soluções, participando efetivamente em decisões políticas a seu respeito, através de contribuições artísticas, etc. Querido Ribeirão Sobradinho, aguente firme! Estamos trabalhando por você, que é o maior símbolo de vida e beleza da nossa cidade! Agradeço por continuar nos brindando com seu ato contínuo de amor à vida, doando suas límpidas águas ininterruptamente, acreditando diariamente em nosso poder de transformação social para contigo.


Profunda gratidão por tê-lo conhecido ainda pleno! Estou certa de que recobrarás teu brio e que a limpeza de suas águas há de ser a nossa maior vitória e o orgulho dos moradores essa cidade! Desejo que você, Ribeirão Sobradinho, seja o modelo real que norteará a recuperação de outros rios e ribeirões do Brasil e do mundo!


Com carinho,

Jaqueline Paz


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